O Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS.SP), instituição da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, inaugura a exposição Fé, Engenho e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitania das Minas do ouro, sob curadoria de Fabio Magalhães e museografia de Haron Cohen, onde exibe 65 obras dos mestres do barroco brasileiro: Antônio Francisco Lisboa (aka Aleijadinho), Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier De Brito. Na mostra, com abertura no dia 27 de maio às 11hs, o MAS.SP homenageia os expoentes das expressões barroca e rococó no Brasil, do sec. XVIII, além de estabelecer um paralelo entre as obras desses três artistas que se faz fundamental para a compreensão e apreciação da arte sacra barroca brasileira. A exposição destaca esculturas e talhas, oferecendo ao público uma experiência imersiva e enriquecedora.
Os Artistas
Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho) (1738 – 1814) – Nascido em Vila Rica (atual Ouro Preto), é considerado um dos maiores expoentes da arte barroca no Brasil. Pouco se sabe, com certeza sobre sua biografia, e sua trajetória é reconstituída através das obras que deixou. Toda sua obra, entre talhas, projetos arquitetônicos, relevos e estatuária, foi realizada em Minas Gerais. Sua produção artística, apesar das limitações físicas decorrentes de uma doença degenerativa, é notável pela expressividade e minúcia dos detalhes. Aleijadinho é conhecido principalmente por suas esculturas, com destaque para os profetas do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, e os doze apóstolos de Ouro Preto.
Francisco Vieira Servas (1720 – 1811) – escultor e entalhador português, nascido em Eidra Vedra, foi um dos principais representantes da talha e do barroco mineiro, deixando uma importante marca na arte sacra. Sua habilidade técnica e a fusão de influências europeias com a sensibilidade local resultaram em obras de grande beleza e expressividade. Suas esculturas revelam uma devoção religiosa profunda, retratando santos, anjos e cenas bíblicas em madeira e pedra.
Francisco Xavier de Brito (? – 1751) – entalhador e escultor português, com local de nascimento desconhecido, foi responsável por importantes talhas de Igrejas do barroco mineiro. Ele contribuiu de maneira significativa para a arte sacra barroca brasileira. Suas habilidades na arquitetura e no entalhe complementam a exposição, apresentando ao público obras detalhadas e distintas.
A visão do arquiteto
A materialização das linhas de um projeto expositivo em uma mostra de arte é um desafio vencido a quatro mãos. Nele estão inseridos o conceito curatorial que define as obras a serem exibidas e a forma, juntamente com a história, que será contada de forma visual. É a memória que fica gravada na mente de quem a vê. No conceito pensado por Haron Cohen para “Fé, Engenho e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitania das Minas do ouro“, o primeiro espaço é uma sala branca onde, uma simulação do adro de Congonhas do Campo reproduz com fidelidade, nas devidas proporções, a localização original dos 12 Profetas criados por Aleijadinho. É um instante que sugere calma.
Uma vez que o projeto concebido por Haron Cohen se propôs a criar uma Ouro Preto dramática, com representações de desníveis, ladeiras e praças, características do local, o toque diferencial vem da idealização de um novo conceito de ‘altar’. Como os três mestres da mostra viveram na cidade, as suas ruas se transformaram em altares para seus santos. Superfícies brancas simulando ruas, com focos de luz para dar destaque ao etéreo, sugerindo enlevação: “eu crio uma Ouro Preto cheia de ruas e de altos e baixos”, explica o arquiteto.
Adentrar a sala principal oferece a dramaticidade proposta uma vez que o caminho se inicia pela parte lateral de um ‘altar’, em formato longitudinal, permitido pelo desenho do espaço expositivo. Ao seguir as ruas e desníveis da cidade apresentada e acompanhar as 55 obras presentes, tem-se ao fundo, o ‘Painel das 1000 cruzes’, com destaque para as de cor branca sobre um azul denso que remete ao tom do céu de Ouro Preto, representando ascensão e queda, por seu ângulo e direcionamento.
Na sequência, o espaço em vermelho e carmim, exibe peças não menos representativas da arte barroca, dos mestres portugueses Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier De Brito, na mesma Ouro Preto de ladeiras e curvas, onde viveram grande parte de suas vidas.
Um pouco da história
No período que abrange os séculos XVIII e XIX, período da ascensão e declínio da mineração aurífera na Capitania das Minas de Ouro, diversos arquitetos, entalhadores, escultores e pintores atuaram na região. Três escultores de nome FRANCISCO se sobressaíram em comparação aos demais: Antônio Francisco Lisboa (conhecido como Aleijadinho), sem dúvida nenhuma, o grande escultor do Brasil colônia, nascido em Vila Rica, Francisco Xavier de Brito e Francisco Vieira Servas, ambos de origem portuguesa.
Os reis portugueses sempre sonharam com a possibilidade de ouro abundante na vastidão das terras do Brasil. As descobertas espanholas no vice-reino do Peru fez com que incentivassem bandeirantes e aventureiros a realizarem incursões por regiões que não lhes pertenciam a procura do metal. Isso contribuiu para que o território da colônia se expandisse e povoados foram criados além das linhas do Tratado de Tordesilhas.
O pensamento dos bandeirantes era simples: se havia ouro na costa espanhola da América do Sul, devia haver também no Brasil. Eles estavam certos. No sec. XVIII o Brasil se transformou no maior produtor de ouro do mundo. A notícia se espalhou com rapidez e gerou uma corrida tanto entre os habitantes locais como os de Portugal. Todos foram em busca de riqueza e poder.
Para garantir sua parte, o rei de Portugal impôs regras rígidas: enviou milícias para vigiar a produção de minérios e que também impediam o acesso à região das minas, sendo permitida apenas com autorização real. Todos os caminhos eram vigiados para impedir o contrabando. E, mesmo assim, parte considerável da produção escapava desse controle.
Uma nota de contextualização: fazem parte desse período conhecido como “civilização do ouro” , do final do século XVII, no meio do nada e distante de tudo, o artista Antônio Francisco Lisboa, nascido em Vila Rica, conhecido como Aleijadinho, Francisco Xavier de Brito e Francisco Vieira Servas.
O Rei D. João V tomou diversas medidas para controlar e assegurar o envio do ouro para Portugal. Uma delas, em 1711, foi a proibição da entrada de ordens religiosas na região das minas e obrigou a saída das que já estavam nos locais buscando evitar a intervenção do poder da Igreja católica nos assuntos auríferos do reino. Assim sendo, o trabalho de evangelização e gestão paroquial foi assumida por sacerdotes seculares. Multiplicaram-se, também, a presença de confrarias leigas, irmandades e ordens terceira que tomaram a frente dos temas religiosos em Minas e com fé, engenho e arte, investiram em construções de igrejas de alto nível artístico e nas representações do imaginário do sagrado. Portugal enviou seus mestres e também ensinou os nativos no ofício do entalhe e da cantaria, entre outras atividades vinculadas à arte sacra.
Mesmo com a proibição do rei de Portugal quanto à presença das ordens na região, a vida religiosa foi organizada através de ordens terceiras, irmandades e confrarias. A rivalidade entre essas instituições impulsionou a criação artística, o que resultou em uma plêiade de artistas, artesãos e músicos que foram requisitados para embelezar as celebrações. Em Minas, a religiosidade se expressava com grande pompa, quase como um espetáculo grandioso.
Durante o período de esplendor e riqueza em Vila Rica, os cidadãos proeminentes da cidade erguiam moradias imponentes, desfrutavam de uma vida luxuosa e apreciavam produtos importados da Europa. As influentes confrarias religiosas competiam fervorosamente entre si, tanto em devoção religiosa quanto em ostentação da fé. Essas instituições contratavam profissionais especializados, como arquitetos e artesãos, para construir igrejas com fachadas majestosas e ornamentações requintadas. Nesse ambiente próspero e dinâmico, cresceu um jovem mulato chamado Antônio Francisco Lisboa, filho natural do arquiteto português Manuel Francisco da Costa Lisboa (?-1767).
No ano de 1738, coincidindo com o nascimento de Antônio Francisco Lisboa, as ricas jazidas de ouro da região ainda apresentavam uma produção generosa, o que impulsionava um notável crescimento em todas as regiões de Minas Gerais, em especial em Ouro Preto
A exposição “ Fé, Engenho e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitania das Minas do ouro” convida os visitantes a explorar e apreciar a riqueza das obras desses três mestres da arte sacra barroca brasileira. O Museu de Arte Sacra de São Paulo tem o prazer de proporcionar essa oportunidade única de mergulhar na história e na cultura por meio das criações de Antônio Francisco Lisboa, Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier de Brito
O Curador
Fabio Magalhães (São Paulo, SP 1942) – crítico de arte, museólogo, professor e curador. Atuou como professor no Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e nas faculdades de Arquitetura da Universidade de Brasília (DF), da Universidade Católica de Campinas (SP) e do Instituto Mackenzie (SP).
Ocupou diversas posições no segmento cultural, como secretário adjunto da Secretaria de Estado da Cultura (SP) em maio de 2005, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1979/1982), secretário da Cultura do Município de São Paulo (1983), presidente da Embrafilme (1988), curador-chefe do MASP (1989/1994), presidente da Fundação Memorial da América Latina (SP) (1995/2003) e curador das 2ª e 3ª bienais de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre (RS)(1998/2001).
É membro dos conselhos da Fundação Padre Anchieta (SP), da Fundação Bienal de São Paulo (SP), do Instituto Itaú Cultural (SP), do Editorial da Unicamp (SP), do Museu da Casa Brasileira (SP) e da revista Política Externa (Paz e Terra).
O Arquiteto
Haron Cohen (São Paulo, SP 1936) – Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Mackenzie (SP), em 1963. Em sua carreira como docente, deu aulas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e também na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde é um dos fundadores do curso de Desenho Industrial, implantado em 1968. Como arquiteto, desenvolveu dezenas de edificações, urbanismos, montagens de exposições e programações visuais, atuando como arquiteto responsável pela reforma ocorrida em 1999 no edifício que hoje abriga a Estação Pinacoteca e o Memorial da Resistência de São Paulo. Atua, através de seu escritório Haron Cohen Arquitetura e Programação Visual Ltda, com projetos expográfico e museográficos na conceituação e montagem de diversas exposições de arte em instituições culturais como Fundação Bienal de São Paulo (18ª e 19ª edições), Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, Museu de arte Sacra de São Paulo – MAS.SP, Museu de Arte de São Paulo (MASP), Centro Cultural FIESP (SP), entre tantos, bem como galerias de arte do circuito cultural nacional.
Exposição “Fé, Engenho e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitania das Minas do ouro ”
Artistas: Antonio Francisco Lisboa, Francisco Vieira Servas, Francisco Xavier de Brito
Curadoria: Fabio Magalhães
Museografia: Haron Cohen
Abertura: 27 de maio, sábado, às 11hs
Período: de 28 de maio a 30 de julho de 2023
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo || MAS/SP
Endereço: Avenida Tiradentes, 676 – Luz, São Paulo (ao lado da estação Tiradentes do Metrô)
Estacionamento gratuito/alternativa de acesso: Rua Jorge Miranda, 43 (sujeito à lotação)
Tel.: 11 3326-3336 – informações adicionais
Horários: De terça-feira a domingo, das 09 às 17h (entrada permitida até as 16h30)
Ingresso: R$ 6,00 (Inteira) | R$ 3,00 (meia entrada nacional para estudantes, professores da rede privada e I.D. Jovem – mediante comprovação) | Grátis aos sábados | Isenções no site
Número de obras: 65
Técnica: esculturas e talhas
INGRESSOS – Compra de Ingressos