Museu de Arte Sacra de São Paulo exibe raridades em marfim

Sagrado Marfim – O Avesso do Avesso” destaca a historicidade de peças que remontam à antiguidade, às artes africana e asiática e aos objetos artísticos e litúrgicos na Europa medieval e moderna

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado, inaugura “Sagrado Marfim: O Avesso do Avesso“, sob curadoria de Jorge Lúzio e Maria Inês Lopes Coutinho. Composta por cinquenta e três peças pertencentes aos acervos do MAS/SP, Coleção Ivani e Jorge Yunes e Fundação Ema Klabin, a mostra propõe repensar o uso do marfim nas obras de arte e em seus desdobramentos iconográficos, destacando sua historicidade que remonta à antiguidade, às artes africana e asiática e aos objetos artísticos e litúrgicos na Europa medieval e moderna – o que reverbera nas produções encontradas em inúmeras sociedades interligadas pelo sistema colonial.

Raras obras de arte, de tamanhos diversos, com exemplares dos séculos XVII, XVIII e XIX. A partir de uma perspectiva histórica, esta nova mostra do Museu de Arte Sacra de São Paulo foi concebida no intuito de estimular diálogos multidisciplinares com a História Social da Arte, a Antropologia, a Museologia, os Estudos Afro-asiáticos, a História Ambiental, o Patrimônio e a Arte Sacra. Nos dizeres de José Carlos Marçal de Barros, diretor executivo do MAS/SP: “Segundo o Antigo Testamento, o Rei Salomão mandava trazer marfim de Társis, nas rotas do Oriente. Fídias, o incomparável artista grego, utilizou marfim em uma das mais importantes estátuas da Grécia Antiga, a Atena Pártenos, para homenagear a deusa no Partenon. E em tempos mais recentes, o magnífico Demetre Chiparus utilizava metal e marfim em suas estatuetas indiscutivelmente belas. As obras mais afamadas são as chamadas criselefantinas em bronze e marfim. Tão rica e antiga é a utilização do marfim em obras de arte que uma exposição que pretendesse apresentar a sua história seria praticamente impossível“.

No âmbito das relações entre as metrópoles com suas colônias, assim como nos vínculos intracoloniais e intercoloniais, o marfim configura uma categoria histórica milenar, desde a antiguidade, na África e na Ásia, até sua circulação na Europa. O entalhe em dentes de mamíferos possui origem remota, associada à ancestralidade das culturas que confeccionavam objetos para inúmeros fins. Como explica o curador Jorge Lúzio: “Nas rotas que interligavam reinos e entrepostos no continente africano, ou entre os circuitos de mercantilismo que integravam o Mediterrâneo ao Índico, sempre esteve o marfim como item dos mais apreciados e valiosos, por possibilitar uma incomparável plasticidade e um efeito visual cuja precisão nas formas e nas linhas resultavam numa expressividade de imagens e reproduções jamais obtidas noutra matéria prima“.

Não obstante a arte em marfim possuir uma sofisticação visual inigualável, seu antagonismo reside no debate ambiental, ao se repensar como a ordem global e os sistemas econômicos se apropriaram das tradições, em um processo de mercantilização dos recursos naturais e de banalização da vida – uma vez que se chegou ao século XX com uma demanda e um consumo de objetos em marfim no limite da sobrevivência dos animais. “Assim, a exposição apresenta, entre  suas contribuições, a oportunidade de, ao observar raríssimas esculturas e obras de incontestável importância do patrimônio colonial, relembrar que entre as funções da Arte está o despertar da consciência histórica, para que o sentido de preservação de todas as formas de vida, dos legados históricos e da memória possam contribuir na produção de conhecimento e na promoção da cultura, sensível a aprender com o passado, e sobretudo, comprometida com os desafios do tempo presente“, conclui Jorge Lúzio.

Mais sobre o assunto, nas palavras da diretora técnica do MAS/SP e também curadora, Maria Inês Lopes Coutinho: “A palavra marfim tem sua procedência provável do árabe, casmal-fif, sendo fif: elefante e casm: osso, significando osso de elefante. A organização social dos elefantes é um matriarcado. Os machos jovens andam em bandos de solteiros e os velhos vivem solitários em locais onde há água e comida. São muito sensíveis. A gestação dura 22 meses; quando nascem, pesam 100 quilos; medem um metro de altura; o coração pesa 25 quilos e mamam dez litros de leite por dia. Provêm da África, Ásia e Filipinas. A função da presa é de buscar alimentação, sal e água, escavar em busca de minerais necessários a sua sustentação e defesa contra eventuais ataques, além de manter a sua identidade dentro da manada. Em sua composição há fosfato de cal, de magnésio, carbonato de cálcio e fluoreto de cálcio. A temperatura ideal de conservação é 18 graus C e 60% de umidade relativa“.


Exposição: “Sagrado Marfim: O Avesso do Avesso”
Curadoria: Jorge Lúzio e Maria Inês Lopes Coutinho
Abertura: 19 de maio de 2018, sábado, às 11h00
Período: 20 de maio a (5 de agosto) 04 de novembro de 2018
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo – www.museuartesacra.org.br
Endereço: Avenida Tiradentes, 676 – Luz, São Paulo (ao lado da estação Tiradentes do Metrô)
Tel.: 11 3326-5393 – agendamento / educativo para visitas monitoradas
Horário: Terça-feira a domingo, das 9h00 às 17h00 (bilheteria das 9h00 às 16h30)
Ingresso: R$ 6,00 (estudantes e idosos pagam meia); grátis aos sábados


Imprensa:
Museu de Arte Sacra de São Paulo
Silvia Balady – silvia@balady.com.br / Zeca Florentino – zeca@balady.com.br
Tel.: (11) 3814-3382

Secretaria da Cultura do Estado
Gisele Turteltaub – (11) 3339-8162 – gisele@sp.gov.br
Gabriela Carvalho – (11) 3339-8070 – gabrielacarvalho@sp.gov.br
Damaris Rota – (11) 3339-8308 – drota@sp.gov.br
Stephanie Gomes – (11) 3339-8243 – stgomes@sp.gov.br
Marina Teles – (11) 3339-8164 – mteles@sp.gov.br

Jorge Lúzio
Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC-SP, mestrado em História pela mesma instituição e estágio doutoral na Universidade de Évora – Portugal (Bolsista CAPES Sanduíche). Com pós-graduação em Arte e Cultura Barroca (Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP / MG), atua em História Moderna e História da Ásia através das temáticas do Império português na Índia, Estudos Afro-asiáticos, Pós colonialismo, Arte e Cultura indiana, voltando-se para duas linhas de investigação: circulações, iconografias e cultura material nos períodos medieval e moderno, e problematizações em gêneros e representação na Índia colonial. Possui formação em Teatro-Educação pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC / Ilhéus-BA) e Dança Clássica Indiana – estilo Odissi / DRT-SP, como pesquisador-intérprete no âmbito acadêmico, através de Pós-doc interdisciplinar voltado à Tradição Devadasi em História, Teatro e Antropologia da Dança. Membro do Laboratório de Interlocuções com a Ásia / LIA-FFLCH USP / CNPq (Projeto Pensando Goa), aprofunda-se nos estudos sobre as bailadeiras e os artistas da Índia portuguesa. Integra o Grupo de Pesquisa Outros Orientes / UNIFESP-UFRJ,CNPq, e o LEOA – Laboratório de Estudos Orientais e Asiáticos / UNIFESP. Coordena o grupo de estudos “Europa medieval, África e Oriente: sociedades entre redes e circulações” no Unifai, uma perspectiva interdisciplinar no ensino de História. Docente nos cursos de pós-graduação em “História da África”, “História – Arte / Cultura e Patrimônio”, e “História, Civilização e Pensamento Medieval” no Centro Universitário Assunção – Unifai / PUC-SP, e no Museu de Arte Sacra de São Paulo, MAS/SP, por meio de projetos em consultoria artística, ensino e pesquisa.

 

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