No dia 2 de fevereiro de 2014, o Mosteiro da Luz completou 240 anos. Trata-se de patrimônio nacional tombado, fundado em 1774, que constitui hoje a maior construção de taipa remanescente na cidade São Paulo.

Para celebrar o aniversário de um dos mais expressivos monumentos da arquitetura colonial paulista, o Museu de Arte Sacra de São Paulo — nele instalado desde 1970 — montou a exposição “Mosteiro da Luz: 240 anos“, aberta para visitação de fevereiro a abril de 2014.

Por meio de fotos, mapas, pinturas, esculturas, textos e cronologias, a exposição costurou as trajetórias da cidade, do mosteiro e do museu. Agora, temos grande satisfação em disponibilizar a todos os internautas uma parcela do que foi exibido. Boa visita.


Convento da Luz: Cronologia

1707-1709
Guerra dos Emboabas

1709
Criação da capitania de São Paulo e Minas do Ouro; a capitania hereditária de São Vicente passa para a Coroa.

1711
11 de julho: A Vila de São Paulo é elevada à categoria de cidade.

1720
Criação da capitania de Minas Gerais, desmembrada da capitania de São Paulo.

1726
Os castelhanos se estabelecem em Montevidéu.

1738
Uma Provisão Régia separa a ilha de Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, incluindo a Colônia do Sacramento, do território de São Paulo, unindo-os ao Rio de Janeiro.

1739
Nasce em Guaratinguetá Antônio Galvão de França, futuro frei Antônio de Santana Galvão.

1740
Laguna sai da jurisdição de São Paulo e passa ao Rio de Janeiro.

1745
Criação do Bispado de São Paulo: o primeiro bispo é dom Bernardo Rodrigues Nogueira (1745-1748).

1748
Um Alvará cria as capitanias de Goiás e Mato Grosso, desmembrando-as de São Paulo; pelo mesmo Alvará, a administração de São Paulo passa ao Rio de Janeiro.

1750
Tratado de Madri, dispondo sobre as fronteiras entre os domínios coloniais de Portugal e de Espanha.
Toma posse do Bispado de São Paulo domn frei Antônio da Madre de  Deus Galvão O. F. M. (1750-1764).

1756
Começa na Europa a Guerra do Sete Anos: motivada por interesses coloniais, opõe a França, a Áustria e seus aliados Saxônia, Rússia, Suécia e Espanha, a Inglaterra, Portugal, Prússia e Hanôver.

1759
Por Decreto de 3 de Setembro, a Companhia de Jesus é expulsa de Portugal e seus domínios.

1761
O Tratado de El Pardo anula as disposições do Tratado de Madri.

1762
Os castelhanos tomam a Colônia do Sacramento e invadem o Rio Grande do Sul.

1763
O Tratado de Paris põe fim à Guerra dos Sete Anos; os espanhóis devolvem a Portugal a Colônia do Sacramento, mas suas tropas permanecem em Montevidéu e no Rio Grande do Sul.

1764
14 de Dezembro: dom José I nomeia dom Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, o 4º Morgado de Mateus, governador e capitão general da capitania de São Paulo.

1765
Por Decreto de 5 de Janeiro, o rei informa ao Conselho Ultramarino que é servido restabelecer a Capitania de São Paulo a seu antigo estado e nomear para governador e capitão general do mesmo governo a dom Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, estabelecendo também que deverá servir por tempo de três anos e mais que decorrer enquanto não lhe nomear sucessor.
27 de Março: dom Luiz Antônio embarca para o Brasil na nau de guerra Nossa Senhora da Estrela.
18 de Junho: a nau entra na baía de Guanabara, atracando dois dias depois, a 20 de Junho.
23 de Julho: dom Luiz chega a Santos.

1766
2 de Abril de 1766: dom Luiz parte de Santos, com destino a São Paulo, onde chega no dia 6, tomando posse no dia seguinte, 7 de Abril, dia de Nossa Senhora dos Prazeres, madroeira da Casa de Mateus; instala-se no antigo Colégio dos Jesuítas, transformado em Palácio do Governo.

1767
Carlos III ordena a expulsão dos jesuítas da Espanha e de suas colônias.

1770
A irmã carmelita Helena Maria do Espírito Santo tem visões que relata a seu confessor, o franciscano frei Antônio de Santana Galvão: as visões se referem à criação de um convento para religiosas em São Paulo.

1771
Dom frei Manuel da Ressurreição O. F. M., é nomeado Bispo de São Paulo  (terceiro bispo de São Paulo: 1771-1789).

1773
Frei Galvão procura o capitão general Dom Luiz Antônio e, mesmo contrariando as ordens do Marques de Pombal proibindo a instituição de novos conventos ou mosteiros, obtém a aprovação do governador; a fim de se contornar a proibição, fica estabelecida a fundação de um recolhimento.
O papa Clemente IV, no Breve Dominus ac Redemptor, de 21 de Julho de 1773, suprime a Companhia de Jesus na Europa.

1774
2 de Fevereiro: dia de Nossa Senhora da Luz (da Candelária) ato solene de inauguração do Recolhimento de Nossa Senhora da Luz.
Março: chega a São Paulo frei Manoel da Ressurreição, para assumir o bispado para o qual fora nomeado em 1771.

1775
2 de Janeiro: Carta Régia ordena o recolhimento de dom Antônio Luiz de Sousa Botelho Mourão à Corte, sendo substituído como capitão general de São Paulo por Martim Lopes Lobo de Saldanha (1775-1782).
23 de Fevereiro: morte de madre Helena Maria do Sacramento.

1776
Finais de Janeiro: deixa o porto do Rio de Janeiro, com destino a Lisboa, onde chegou a 21 de Abril, a fragata Nossa Senhora da Graça: entre os passageiros está dom Luiz Antônio.

1822
7 de Setembro: dom Pedro I proclama a Independência do Brasil.
23 de Dezembro: falece em São Paulo, no Recolhimento da Luz, frei Antônio de Santana Galvão.

1943
Tombamento federal do Mosteiro da Luz pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

1969
Criação do Museu de Arte Sacra de São Paulo e tombamento federal do acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

1970
Instalação do Museu de Arte Sacra de São Paulo no Mosteiro da Luz.

1982
Tombamento estadual do Mosteiro da Luz e do acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).

1991
Tombamento municipal do Mosteiro da Luz e do acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).

2007 
11 de maio: Frei Galvão foi canonizado pelo Papa Bento XVI, durante a visita do pontífice ao Brasil.
12 de maio: Inauguração do Memorial Frei Galvão.

2014
Exposição comemorativa Mosteiro da Luz: 240 anos.


Um olhar atento aos detalhes e à cronologia da exposição que celebra os 240 anos do Mosteiro da Luz levará o visitante a se deparar com um recorte da própria história da cidade de São Paulo. De sua inauguração, em 1774, até os dias atuais, o Mosteiro da Luz testemunhou revoluções tanto metafóricas, como aquelas que foram ditando e mudando os costumes e hábitos desta que é hoje uma das mais importantes metrópoles do planeta, quanto revoltas reais, como a de 1924, na qual o prédio foi danificado pelo ataque das tropas federais aos militares paulistas.

A edificação que é hoje a maior construção de taipa remanescente da cidade São Paulo, passou ainda por outra mudança quando, em 1970, parte do edifício utilizado até então exclusivamente pelas religiosas passou a abrigar também o Museu de Arte Sacra.

A instituição do Governo do Estado de São Paulo cresceu, evoluiu e hoje detém um dos mais importantes acervos do estilo no país. Portanto, os motivos para visitar a exposição são muitos. Esperamos que vocês aproveitem a mostra e conheçam os detalhes desse marco histórico e arquitetônico fundamental da capital paulista.

Secretaria da Cultura
Governo do Estado de São Paulo


O primeiro registro de que temos notícia sobre a existência de uma “Igreja da Luz” consta em uma carta do Padre Anchieta, datada de 1579. O documento faz menção à construção em um local conhecido por “Piranga”, o que alguns historiadores entendem ser Pinheiros, outros entendem ser Ipiranga.

De todo modo, no ano de 1603, em 10 de abril, por carta de doação, os portugueses Domingos Luís e Ana Camacho transferem a sede desta igreja, incluindo a imagem de Nossa Senhora da Luz, para a região ao norte do Anhangabaú, “onde teria exercido grande influência na fé da população, uma vez que festividades religiosas eram realizadas nas imediações” (Arroyo, 1954).

Correm os anos, até que, em 1760, recebeu seu hábito aquele que passou a se chamar Frei Antonio de Sant’Anna Galvão. Oito anos depois é nomeado confessor no Recolhimento de Santa Thereza, onde ouve da Irmã Helena Maria do Espírito Santo as visões proféticas que tivera, nas quais fora ordenada a fundar, em São Paulo, outro recolhimento além daquele de Santa Thereza.

Um recolhimento, como argumentava o padre Raphael Bluteau (1638-1734), tinha grande alcance moral na colônia, e representava para as mulheres “o pregoeiro de sua honestidade”. Portanto, ao chancelar a petição da Irmã Helena, apoiada por Frei Galvão, para a fundação do novo recolhimento, o Governador da Província deixou claro o caráter político e civilizador que via no empreendimento, utilizando a religião como força socializadora e educadora da população sob sua jurisdição.

No documento de aprovação do recolhimento, a Câmara da Província ressaltou, segundo o historiador Amilcar Torrão Filho, que, além da utilização pelas religiosas recolhidas, o novo mosteiro constituiria um passeio à população, servindo “de ornato de recreação e ocasião de devoção às pessoas que ali concorrem todos os dias, especialmente aos sábados”.

Frei Galvão acreditava que a região era promissora e se transformaria em parte importante da cidade. Como aponta o acadêmico Benedito Lima de Toledo, ele antecipou a transformação da área adjacente em Jardim Botânico – o atual Parque da Luz.

Estas convergências fizeram com que, em 2 de fevereiro de 1774, Irmã Helena e outras noviças deixassem Santa Thereza, na companhia do capitão general, do governador do bispado, do ouvidor e de Frei Galvão, e rumassem para a Luz. Considera-se, portanto, esta data como sendo a oficial de fundação do Mosteiro da Luz.

Desde este translado até hoje, 240 anos se passaram, período que o magnífico exemplar de construção em taipa de pilão abrigou tantas devoções em seu interior e assistiu às grandes transformações que São Paulo passou. Acreditamos que, mercê de cuidados conservacionistas, como os que até agora foram empreendidos, o Mosteiro da Luz possa acompanhar às transformações que ocorrerão nos próximos 240 anos, possibilitando, ao mesmo tempo, abrigar novas devoções e utilizações e permanecer como testemunha da “São Paulo de antigamente”.

José Carlos Marçal de Barros
Diretor Executivo


Ficha Técnica

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Geraldo Alckmin
Governador do Estado

Marcelo Mattos Araujo
Secretário de Estado da Cultura

Renata Vieira da Motta
Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo

Madre Eliana Cristina Lopes
Abadessa do Mosteiro da Luz

MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO

José Roberto Marcellino dos Santos
Presidente do Conselho de Administração – SAMAS

José Carlos Marçal de Barros
Diretor Executivo

Maria Inês Lopes Coutinho
Diretora Técnica

Luiz Henrique Marcon Neves
Diretor de Planejamento e Gestão

EXPOSIÇÃO

Maria Inês Lopes Coutinho
Curadora

Equipe Técnica do MAS/SP
Pesquisa, documentação, conservação de acervo e produção

Equipe de Manutenção do MAS/SP
Montagem

Dalton Sala
Pesquisa histórica e cultural

Iran Monteiro
Fotografia

Wilson Sukorski
Instalação Na Chácara da Luz: concepção, realização e trilha original

Jan Sukorski e Leo Sukorski
Assistentes de montagem

RCS Arte Digital
Comunicação Visual

Agradecimentos
BASE Aerofotogrametria e Projetos S/A
Ruy Souza e Silva

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