O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, equipamento da Secretaria de Estado da Cultura, inaugura a exposição Memória, Devoção e Brasilidade – Coleção Ruth e Paschoal Grieco, com curadoria de Beatriz Vicente de Azevedo, exibindo 93 peças, entre imaginária, talhas, mobiliário, pinturas e prataria.
Funcionalidade e simbolismo são marcas de cada uma das peças pertencentes ao núcleo de prataria sacra cristã desta coleção, reunida pelo casal Grieco, tais como navetas, turíbulos, caldeiras para água benta, sinetas, âmbulas, cálices, galhetas, bacias, gomis, luminárias, candelas e castiçais. Entre os destaques da exposição estão a coroa, o bastão e a salva encimada por uma pomba, objetos utilizados na tradicional Festa do Divino Espírito Santo.
A prata não era um material fácil de obter no Brasil colonial e imperial. Ela era trazida das minas de Potosí (Bolívia) através do Rio da Prata, do México e da Espanha. Era também fundida por ourives a partir de objetos estragados ou fora de moda. Uma outra alternativa foi o uso das moedas circulantes, devido, inclusive, à qualidade da liga de cunhagem. O uso das moedas para a produção de objetos em prata foi tão intenso que, para se ter ideia, o dinheiro na colônia tornou-se escasso. Após inúmeras tentativas de se fiscalizar metais e pedras preciosas em circulação pelo Brasil, foi promulgada em 1766 a Carta Régia, que proibiu terminantemente o ofício de ourives no país, lei esta que vigorou até 1815. Durante esses 49 anos os ourives continuaram a atuar e, ao que tudo indica, em maior número. Peças desse período revelam um aprimoramento técnico desses artistas perseguidos.
“Os bens culturais que Ruth e Paschoal com rigor e critério reuniram ao longo de mais de quatro décadas são testemunhos ‘sólidos’ e relevantes da memória e da identidade brasileira”, comenta Beatriz Vicente de Azevedo sobre os objetos em exibição. “Cada peça que integra a coleção passou pela lupa, pelo estudo de publicações e pela pesquisa minuciosa”, diz ainda.
Um dos objetivos da mostra é reafirmar a enorme importância que as coleções particulares possuem para a preservação de patrimônios culturais. “Após o contato com o objeto, tem início uma inquietação, um desassossego que se traduz em muita observação, pesquisa, estudo e crítica. O casal Grieco é extremamente rigoroso nas escolhas, apesar de ser encantado com a força e o sabor da arte brasileira do período colonial e imperial”, avalia a curadora.
Além dos objetos em prata, será exibida uma seleção de pinturas, móveis e imagens, também da coleção Ruth e Paschoal Grieco, iconografias utilizadas tanto para o culto litúrgico, oficiado nas igrejas, quanto para as devoções domésticas e populares.