O Museu de Arte Sacra promove um Curso de Férias sobre o tema “Introdução à História da Arte: Do Renascimento às Vanguardas”, com o Prof. Plinio Freire Gomes.
Dividido em quatro módulos independentes, o curso visita uma ampla gama de manifestações artísticas – desde o Renascimento até o Pós-Moderno. Historicamente, este arco temporal foi marcado pelo predomínio do pensamento técnico-científico e por um inédito sentido de aceleração histórica, que ficou conhecido como “Modernidade”. Outra característica decisiva do período foi a transformação da Europa em centro hegemônico da economia e da cultura mundial. Mas tal fenômeno não silenciou as expressões alternativas, que sob vários rótulos (selvagem, colonial, subdesenvolvido), continuaram a aflorar no restante do globo, as chamadas “periferias”.
I) Afinidades cosmológicas: Renascimento e Maneirismo
Pautado pelas explorações geográficas e por uma nova visão do universo, o séc. XVI constrói as bases da ciência moderna. Porém,os fenômenos da natureza ainda não foram dissecados e desencantados pelo metódo cartesiano. Ao contrário, o micro e o macrocosmo se entrelaçam em fecundas e sutis afinidades. O artista, neste contexto, não é apenas veículo de uma sensibilidade excepcional; é sim um sábio que especula sobre o mundo como qualquer homem de ciência.
II) À sombra de Leviatan: Barroco
Nos sécs. XVII e XVIII, com o comércio colonial e com a formação dos Estados Nacionais, a hegemonia europeia se consolida. Entre os dados fundamentais do absolutismo, destaca-se o crescente agenciamento das artes em benefício do poder. É a era dos artistas oficiais e das Academias, que regulamentam os gêneros em categorias e hierarquias pré-definidas. Este novo sistema, tido por universal, se irradia mundo afora. Mas sua imagem, fora da Europa, se deforma e se fratura.
III) O advento da Modernidade: Acadêmicos, Românticos e Impressionistas
O método científico enfim prevalece, regendo e alimentando com suas técnicas a produção industrial. No plano político, a burguesia suplanta a aristocracia em meioao clamor das revoluções. Enquanto isto, o ideal de progresso se converte em espécie de religião profana – e parece acelerar os ponteiros da história. Eis os componentes de uma palavra nova, saturada de promessas e de assombros: “Modernidade”.
IV) Vanguardas: entusiasmo e esgotamento
Tem início o séc. XX, na esteira de um breve interlúdio de autoconfiança. Mas as certezas do progresso dão lugar à guerra e à destruição em escalas nunca vistas. As vanguardas se sucedem e se esgotam, sem conseguir sintetizar as feições de uma época em permanente derretimento.A arte, cada vez mais monetarizada e insignificante, se converte em avatar da economia financeira.
Programação
Módulo I – Afinidades cosmológicas: Renascimento e Maneirismo
– Aula 1: Apogeu do Renascimento.
Julio II comissiona Michelangelo e Rafael. La Sistina e La Stanza della segnatura. Obras em destaque: Rafael,Ressurreição de Cristo.
– Aula 2: O diálogo dos anacoretas.
As duas tradições determinantes do séc. XVI, a italiana e a holandesa, continuam a gerar soluções originais. Obras em destaque: Bosh,As tentações de Santo Antão; e Mantegna,São Jerônimo no deserto.
– Aula 3: As seduções do retrato.
O retrato entre o sentimentalismo e a celebração dinástica. Tiziano, Hans Holbein e os miniaturistas do Império Moghul. Obras em destaque: Retrato do cardeal Madruzzo.
– Aula 4: Ilusões na câmara escura: pintura e ótica.
Vermeer, Rembrandt, Franz Hals. A glória da pintura de gênero.
Módulo II – À sombra de Leviatan: Barroco
– Aula 5: Visões do sublime e do monstruoso.
O mundo cortesão de Velázquez e os caprichos de Lavinia Fontana. Obras em destaque: Retrato do Conde Duque Olivares.
– Aula 6: Mitologias reatualizadas: a raça e a terra.
De Guercino a Poussin. Iluminuras persas.
– Aula 7: Labirintos barrocos no mundo colonial.
Franz Post, Eckhout. Barroco brasileiro, Aleijadinho. Barroco mexicano. Uma vila pseudo-chinesa em Palermo.
– Aula 8: Da Arcadia ao paisagismo zen.
O sistema estético da Academia e seus descontentes. Chardin e Claude Lorrain. Vedutismo, o lirismo das paisagens e os jardins zen da cultura japonesa.
Módulo III – O advento da modernidade: Acadêmicos, Românticos e Impressionistas
– Aula 9: A Revolução e suas sombras.
A parábola revolucionária, entre esperança e tragédia, nas telas do francês David e do espanhol Goya. Obras em destaque: Retratos da Condessa Casa Flores e de Carlos VII.
– Aula 10: O exotismo invade as Belas Artes.
1815, o Congresso de Viena redesenha os mapas e as sensibilidades. A antimodernidade revolucionária de Ingres. O exotismo orientalista, com Jerôme, e tropical, com Debret e Taunay. Obras em destaque: Angelica; Índios atravessando um riacho.
– Aula 11: A Modernidade toma consciência de si mesma.
1848, a retomada dos impulsos utópicos. Pré-Rafaelistas, a primeira contestação à modernidade industrial e prenúncio ao vanguardismo. O paisagismo de Caspar Friedrich.
– Aula 12: Os disturbadores públicos: a era dos cavaletes.
A revolução cromática dos impressionistas. Dois artistas em contratendência: Manet e Degas. Obras em destaque: Retrato de M. Desboutin, Quatro bailarinas em cena.
– Aula 13: Prismas: o espectro se dilata.
A guinada pós-impressionista: Seurat, Gauguin e Van Gogh. Obras em destaque: O escolar e Pobre pescador.
Módulo IV – Vanguardas: entusiasmo e esgotamento
– Aula 14: O século cortado ao meio pelas vanguardas (parte 1).
1889-1945. Da luz elétrica em Paris ao flash nuclear em Hiroshima. Cubismo, futurismo, dadaísmo. Arte e totalitarismo: Alemanha, Itália, URSS. Acervo: Picasso, Busto de homem.
– Aula 15: O século cortado ao meio pelas vanguardas (parte 2).
1945-2001. De Hiroshima às Torres Gêmeas. A Pax Americana dissecada no hiperrealismo de Edward Hopper e de Marianna Gartner. O abstracionismo de Pollock e de Joan Mitchell. A pop art, os decalques de Worholl.
– Aula 16: Periferias ardentes.
Brasil, Argentina, Uruguai e México. Os modernistas e o expressionismo de Segall. O engajamento de Diego Rivera. As tendências surrealistas, Frida Khalo, Xul Solar, Horacio Copolla e Joaquín Torres Garcia.
Indicações bibliográficas:
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte italiana. São Paulo: Cosac Naify, 2003, vols. 1-3.
_____. A arte moderna na Europa: de Hogarth a Picasso. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
BELL, Julian. Uma nova história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
BRAUDEL, Fernand. O modelo italiano. São Paulo: Cia. das Letras, 2007.
BURCKHARDT, Titus. A Arte Sagrada no Oriente e no Ocidente: princípios e métodos. São Paulo: Attar, 2004 [1955].
CALASSO, Roberto. A folie Baudelaire. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.
CASTELNUOVO, Enrico. Retrato e sociedade na arte italiana. São Paulo: Cia. das Letras, 2006.
CLARK, T. J. A pintura na vida moderna: Paris na arte de Manet e de seus seguidores. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
CHECA CREMADES, F.; GARCIA FELGUERA, M.S.; MORAN TURINA, M. Guia para el estudio de la historia del arte. Madrid: Catedra, 1987
FARTHING, Stephen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2010.
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens. São Paulo: Cia. das Letras, 2011.
SCHORSKE, Carl E. Fin-De-Siecle Vienna: Politics and Culture. New York: Vintage Books, 1981.
SCHWARTZ, Jorge. O fervor das vanguardas – arte e literatura na América Latina. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.
STAROBINSKI, Jean. 1789 – os emblemas da razão. São Paulo: Cia. das Letras, 1988.
Professor
Plinio Freire Gomes é autor de “Um herege vai ao paraíso” (Companhia das Letras). Graduou-se e fez mestrado em história, na Universidade de São Paulo. Viveu durante quase duas décadas no exterior, entre a Europa e o Oriente Médio. Leciona nos museus Masp, Museu de Arte Sacra e Mam; e em instituições como Casa do Saber, Centro Universitário Maria Antonia, Instituto de Cultura Árabe e Areté (Centro de Cultura Helênica). Há seis anos coordena o grupo de “Estudos da Arte”, atuando também como membro fundador do coletivo Lente Cultural, na Livraria Martins Fontes. Atualmente apresenta conferências e cursos sobre história da arte, com foco nos períodos helenístico, romano e renascentista. Mas sua principal área de atuação é a cultura islâmica. Participa ainda, na condição de especialista, em projetos de viagem com foco em países como Itália, Espanha, Marrocos, Irã, Índia, China e Japão.
Período:
Aulas: 07 à 31 de janeiro de 2019 (de segunda à quinta)
Horário: das 14h30 às 16h30
Carga horária: 32 horas
Valor: R$ 600,00 a vista (depósito ou dinheiro) – R$ 690,00 parcelado ou no cartão.
Inscrições: mfatima@museuartesacra.org.br
Informações: (11) 5627.5393
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo
Endereço: Avenida Tiradentes, 676, Luz. Metro Tiradentes.
Estacionamento gratuito (ou alternativa de acesso): Rua Jorge Miranda, 43