O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, expôs “Ancoragem – A fôrma e a forma”, da artista mineira Vladimila Veiga, com curadoria de Ian Duarte Lucas. A mostra é composta por 11 esculturas – gesso, concreto, pó de pedra, ferro e outros elementos -, que se baseiam em figuras da liturgia católica, modeladas em fôrmas produzidas por seu avô, o escultor Carlos Veiga. Ao revisitar a história de sua família, a artista lança luz sobre processos mais amplos da sociedade, para além da religião, inserindo na contemporaneidade figuras que povoam o imaginário da população, que por vezes passa incólume aos signos que estão embutidos na iconografia de cada imagem.

Em 2008, Vladimila Veiga recebeu os moldes de imagens de arte sacra que seu avô havia produzido ao longo de sua carreira artística. Em razão do grande volume – 240 peças -, armazenou as fôrmas em um galpão que ocupava espaço no sítio da família. “Pensei: ‘Quando eu voltar ao sítio, daqui uns 8 meses, irei catalogar, fazer registro e tirar fotos de tudo’. Mas, pra minha surpresa, pouco sobrou destas peças. Roedores destruíram boa parte. Fiquei somente com 84 fôrmas. Enfim, um dia para ser esquecido… Uma frustação, desespero”, comenta a artista. Então, se distanciou do projeto por dois anos, pois lhe faltava coragem para se reaproximar de uma memória dolorosa. Após superar esses acontecimentos, Vladimila Veiga fundiu 8 imagens em gesso e o resultado a motivou a romper certa angústia de ver todo aquele trabalho parado, sem vida, sem história. Em suas palavras: “E o quanto tudo aquilo fez e faz parte da minha história, porque foi por ali que tive meu primeiro contato com a arte, aos 13 anos de idade. Passava as tardes no ateliê do meu avô. E ele deixou muitos mais que seu trabalho, deixou vínculo, deixou afeto também, deixou sonhos. Faleceu aos 94 anos, lúcido, trabalhando em seu ateliê”.

Assim, Vladimila Veiga percebeu qual era seu caminho, em uma necessidade de expressar todos os seus questionamentos, de maneira autoral, unindo duas fôrmas em uma única imagem e criando, com os moldes de seu avô, novas formas. Para a mostra no MAS-SP, são apresentadas 11 dessas esculturas, das quais 7 foram produzidas exclusivamente para esta individual. Embasado no conceito dos simbolismos, isento de valores morais ou imorais, o título “Ancoragem” exprime um senso de fortalecimento, de algo que fica e continua. “Perguntas sem respostas que existem em muitos questionamentos. Figuras que permitem novas leituras. Convivo com estas imagens sacras há muitos anos, tenho conversas pertinentes e às vezes fantasiadas, de vivências muito individualizadas”, explica a artista. Quanto ao critério técnico desta série, sua escolha em trabalhar com gesso a possibilitou interferir na postura, nas posições retratadas, como mãos abertas, cabeças erguidas, de mãos dadas.

Ao buscar inspiração nas fôrmas e suas representações na Igreja, Vladimila Veiga também procura sua própria interpretação dessas imagens, com um novo olhar, pessoal, sem nenhuma pretensão religiosa. “A artista parte destes moldes não para produzir novamente imagens sacras, mas para investigar as relações entre os ícones e o simbolismo que cada figura carrega até os dias de hoje, recombinando partes distintas de cada um deles. Desta forma a artista ancora essas novas figuras através de uma relação com o passado, ao revisitar os moldes e apresentá-los reconfigurados, inserindo-os em uma sala também histórica e repleta de simbolismos de como a cidade e o processo de ocupação do território brasileiro se configurou”, comenta Ian Duarte Lucas.


 


Exposição: “Ancoragem – A forma e a fôrma
Artista: Vladimila Veiga
Curadoria: Ian Duarte Lucas
Número de obras: 11
Técnica: Esculturas – gesso, concreto, pó de pedra, ferro e outros objetos
Dimensões: Variadas

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