Nas primeiras décadas do século XVI, Holbein o Jovem revolucionou a representação do corpo do Cristo. Seu realismo quase insuportável foi um choque para os primeiros olhos que puderam ser confrontados com essa imagem da extrema fragilidade humana e essa forte impressão perdurou e perdura até hoje. Até mesmo Dostoiévski, no século XIX, não saiu ileso desse encontro, como contou a sua própria esposa: 

O quadro deprimiu Fiodor Mikhaïlovitch, que se sentiu derrotado diante dele. Eu não tive forças para olhar o quadro, me impressionava com facilidade, principalmente agora em meu estado delicado [de gravidez], e fui para outra sala. Quando voltei, quinze, vinte minutos depois, encontrei Fiodor ainda diante do quadro, como se estivesse preso. A expressão de seu rosto era de preocupação e susto, a mesma que vi, várias vezes, nos primeiros minutos de um ataque de epilepsia. Devagarinho, peguei meu marido pela mão, levei-o para outra sala e me sentei com ele num banco, esperando, a qualquer momento, o início da crise. Felizmente, isso não aconteceu: Fiodor Mikhailovitch, aos poucos, se acalmou e, quando saímos do museu, insistiu em voltar mais uma vez para ver o quadro que tanto o impressionou (DOSTOIEVSKAIA, 1999, p.133). 

A impressão foi tão decisiva que a obra tornou-se um dos elementos decisivos para a compreensão de um dos seu mais célebres romances, O Idiota. É assim que o príncipe Míchkin se refere à ela, de forma lapidar: 

Ora, por causa desse quadro outra pessoa ainda pode perder a fé (DOSTOIÉVSKI, O Idiota, 2002, p. 254) 

Nesta palestra iremos explorar aspectos pouco trabalhados do quadro de Holbein em detalhe, estabelecendo comparações seriais com imagens semelhantes de sua época e seus precedentes medievais para lançarmos a hipótese de que o artista tenha, talvez, concebido uma das mais radicais imagens do limiar entre a vida e a morte. 

Prof. João Gomes é bacharel em História (PUC-SP) e mestre em História Social (Unesp). Passou um período de pouco mais quatro anos de pesquisas em História Medieval na França junto à l’Université de Paris-I La Sorbonne e da École Pratique des Hautes Études. Foi professor substituto na disciplina de História Medieval I na Unesp-Franca, professor especialista visitante na Unicamp onde tratou da “arqueologia histórica da multidão na Idade Média”. Ministrou cursos na PUC-SP, no CPF-SESC-SP (Centro de Pesquisa e Formação), na FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) na Tapera Taperá, na Casa Tombada, no espaço Lux, na La Matrioska-uma escola de luta, no Razão Inadequada, no Atelier Paulista entre outros, onde tratou de temas como o da imagem impossível da multidão e de outros relativos aos desenvolvimentos teóricos atuais para a compreensão das imagens medievais. É tradutor de Maurice Blanchot, Georges Bataille, Albert Camus, Jérôme Baschet e Michael Löwy. Possui publicações acadêmicas em periódicos e obras coletivas no Brasil e na França 

Data: 31 de janeiro de 2026 (sábado) 
Horário: 10h30 
Não é necessário fazer inscrição. 
Informações: (11) 3322-5393  
Whatsapp:+55 (11) 99144-3223 (somente mensagens) 
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo 
Endereço: Avenida Tiradentes, 676 – Luz 
Estacionamento Gratuito: Rua Jorge Miranda, 43 – Luz (sujeito a lotação) 

Para participar basta trazer um 1kg de alimento não perecível. 
Iniciativa faz parte do projeto “Marmitas do Bem – Orar&Ação”, distribuição de marmitas e kits alimentares todas as quintas feiras no pátio do Museu de Arte Sacra de São Paulo. 
Ex: Macarrão – molho de tomate – arroz – feijão – óleo 

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