A iniciativa da União Europeia, visa promover no período de um ano, cidades de países democráticos que demonstrem as especificidades de suas trajetórias culturais que permitam e que justifiquem maior conhecimento delas, para que possam estabelecer e gerar internacionalmente, uma ressonância entre cidadãos do mundo inteiro.

Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, presta homenagem à Elevsis e à Grécia em 2021, dando sequência à divulgação das cidades nomeadas anualmente, como “Capital Europeia da Cultura”.

Iniciativa da UE que em 1985 adotou a proposta de Melina Mercouri, primeira mulher Ministra da Cultura na Grécia, desde quando Atenas foi a escolhida, promove as cidades escolhidas, nomeadas formalmente, quatro anos antes, para sediarem os diversos eventos, artísticos e culturais, ao longo do ano a elas dedicado e recebem do Conselho Europeu, orientação, acompanhamento, prêmio e verba, para sustentar o complexo investimento das suas comemorações.

Com a participação de seus próprios habitantes atraindo a atenção internacional, as cidades conseguem se elevar e se renovar também como destino e de total interesse turístico. Clique aqui e assista o vídeo que preparamos para Rijeka na Croácia, Capital Europeia da Cultura em 2020.

As Capitais Europeias da Cultura celebram a riqueza da diversidade
e as características culturais que compartilham. Enfatizam o sentimento de pertencimento dos cidadãos europeus a um espaço em comum e fomentam a contribuição da cultura, para o desenvolvimento das cidades, com eventos que regeneram e elevam o perfil delas, a partir de seus próprios habitantes e as fazem conhecidas internacionalmente.

O IMPACTO DA PANDEMIA

Diante das necessárias e urgentes medidas para conter a propagação da Covid-19, a Comissão Europeia apresentou proposta ao Parlamento Europeu em agosto de 2020 que aprovada em dezembro, deu à Rijeka e Galway, a possibilidade de prorrogarem o seu título até 30 de abril de 2021.

E por uma atenção especial, assegurou os títulos das capitais já eleitas para este ano concedendo a Elevsis (Grécia), Veszprém (Hungria) e Timișoara (Romênia), a ampliação do calendário de suas celebrações, até 2022 e 2023.

Parthenon – Templo de culto a Athena – constr. século V a.C. gov. Péricles – Ícone da democracia e da arquitetura grega clássica. Depois do advento do Cristianismo, já foi Igreja Romana, Catedral Bizantina e “Notre Dame” de Atenas.


Desenho de Victor Brecheret – década de 1950

“Aos gregos devemos absolutamente tudo o que se identifica e se pode chamar de legado, original, essencial e extraordinário, a notável e a magnífica síntese de todo um espectro de luz que com inquietude, aspirou ver ter e sentir, como seu perene anseio humano, pela via do pensamento e do espírito, para ascender e transcender a uma civilização eterna de cultura, de ciência e de arte.”
Eleonora Maria Fibcato Fleury, Curadora
Agradecimentos:
à participação especial de Victor Brecheret (in memoriam),
Exmo. Sr. Antonio Thomaz Lessa Garcia Junior, Sup. Executiva da Bienal São Paulo – Veneza,
Exmo. Cônsul Geral da Grécia em São Paulo, Sr. Stylianos Hourmouziadis,  Exma. Sra. Helena Sazalis,
Centro de Estudos Helênicos Areté
e a Leandro Matthes Aurelli

Do Mito ao Rito

“Estela para Smykythion”, com um suplicante, Deméter e Kore Data: 400a.C. – 300a.C. Museu Arqueológico de Elevsis – Lívius.org

A “estrada sagrada” entre Atenas e Elevsis

Mapa da região de Elevsis na Attica

Mapa Antigo

Os Mistérios Eleusinos, foram os mais antigos, importantes e famosos dos cultos gregos, celebrados sob dramatizações ritualísticas públicas e os assistidos por um número menor e mais restrito de “iniciados”, em templos fechados, dedicados a Deméter e Perséphone-Kore, mãe e filha, deusas da agricultura e fertilidade, Registrados somente a partir da Grécia Clássica, literariamente, a partir do século VII a.C., mas na época minoica, no século XVI a.C., já havia construído um santuário em Elevsis, cidade vizinha de Atenas e mesmo com as sucessivas destruições ao longo de dois milênios, ganhou também reconstruções e manteve esse culto, avançando pelo período do Helenismo até o Império Romano, só interrompido no século IV d.C., com a proibição dos cultos pagãos, por Teodósio.

Grécia Micênica

Hellas, era a terra helênica, no continente europeu com cerca de 1000 ilhas, habitada por várias tribos dos povos aqueus, jônios, dóricos, áticas, etc., que se diziam descendentes de Heleno, personagem da mitologia grega, como relatado na Odisseia por Homero.

Períodos
Pré-Homérico (séculos XX – XII a.C.)
Homérico (séculos XII – VIII a.C.)
Arcaico (séculos VIII – VI a.C.)
Clássico (séculos V – IV a.C.)
Helenístico – desde a conquista da Grécia pelos macedônios em 338 a.C. até sua anexação pelos romanos em 146 a.C.
Dos romanos que vem o nome Graecia, habitada pelos graikos, descendentes de Greacus, filho de Zeus .

Os Mistérios Eleusinos se difundiram, também para outras cidades-estado da Grécia e pelas suas diásporas gregas, para além do mar, em suas colônias, esteve presente nas florescentes polis gregas da Magna Grécia, sul da Itália e da Sicília a partir do século VIII a.C., como atestam os maravilhosos achados arqueológicos de ruínas de seus templos, peças e oferendas de cerâmica, e estatuária dessa época.

Vaso de água e de culto eleusino , retrata uma assembleia de deuses. Deméter e a rainha Metanira, mulher de Celeu que governava Elevsis, da época dos micênios e que construiu o primeiro Santuário a Deméter. Cerâmica da Magna Grécia, Apúlia, 340 AC.

Hélade

Colônias gregas

povos helenos nas colônias da Magna Grécia (Sicília e Sul da Itália)

 

Como participantes ou adeptisv dos Mistérios Eleusinos, estiveram Platão, Aristóteles, Cícero, Sófocles, Plutarco, Alexandre Magno e o Imperadores Romanos Antonino Pio, Adriano e Marco Aurélio.

reconstrução dos vários templos de Elevsis com o Telesterion- principal santuário a Deméter

c. 1500 a.C.
O primeiro templo para Deméter e Perséfone é construído em Elevsis.

c. 600 a.C.
Os mistérios de Elevsis tornam-se parte do calendário religioso ateniense oficial.

c. 479 a.C.
Elevsis é destruída pelos persas.

c. 450 a.C.
Péricles supervisiona um programa significativo de reconstrução em Elevsis.

c. 360 a.C.
Elevsis é novamente expandido e novas fortificações adicionadas.

170 d.C.
Elevsis é destruída pelos Costobocs. Povo antigo que invadiu o Império Romano em 170 ou 171 DC, pilhando suas províncias dos Bálcãs até a Grécia

170 d.C. – 180 d.C.
Marcus Aurelius supervisiona um programa de reconstrução em Elevsis, que inclui um novo propileu.

379 d.C.
Teodósio I ordena o fechamento de todos os sites pagãos gregos.

395 d.C.
Elevsis é destruída na invasão visigótica.

Cícero,(106 – 43 a.C.) Palácio da Justiça (Roma, Itália). Foto: Cris Foto / Shutterstock.com

Cícero, advogado, político, escritor, orador e filósofo da República Romana eleito cônsul em 63 a.C.
Cícero, morou na Grécia, introduziu os romanos às principais escolas da filosofia grega e criou vocabulário filosófico latino com os neologismos. evidentia, humanitas, qualitas, quantitas e essentia.

Nada é mais elevado do que esses mistérios… eles não apenas nos mostraram como viver alegremente, mas nos ensinaram como morrer com uma esperança melhor“, Cícero

Alegoria da Agricultura (Persephone) – Victor Brecheret

Alegoria da Construção (Deméter) – Victor Brecheret

A alegoria que envolveu o mito de Deméter, deusa da agricultura, com todo seu desvelo, cuidado, proteção e sofrimento pela Persephone – Kore, raptada pelo mundo inferior, relacionando-o como causador da repentina aridez da terra, – os rituais de seu culto, com oferendas, sacrifícios e purificação, relembrando a busca da mãe pela filha – a comunhão dos iniciados com as deusas no santuário, para celebrar o reencontro e o acordo, conseguido pelos deuses. como garantia da restituição da sua filha e da fertilidade, para obterem instruções agrárias – a explicação simples e elementar da semente ressurgindo na primavera e verão, depois do inverno – a disposição mental e psicológica dos participantes ao desejar e aceitar uma crença que lhes ofereceu esperança na perspectiva de uma vida pós morte, como recompensa pelo merecimento pessoal, independentemente de uma predestinação imutável do status social de cada um como prêmio e herança por boa conduta moral – as influências decisivas dos povos que reverenciavam os mortos – tudo isso demonstrou, desde então, o outro lado possível da trajetória e realização humana, trazendo para a técnica e prática agrária da história dos povos, a compreensão de que é necessário também um tempo debaixo da terra como a semente antes de germinar florir e dar bons frutos e demonstra a passagem de uma vida virtuosa para a ressurreição do próprio corpo e alma, para a eternidade.


História de Elevsis, cidade dos Mistérios

Ruinas do templo dedicado a Deméter-Persephone- sitio arqueológico de Elevsis. Foto de Carol Rodatto

Deméter e Persephone-Kore(garota) foram os personagens centrais dos Mistérios de Elevsis e deusas indivisíveis como culto.

Homero


Hesíodo

O mito de Deméter, -registrado em texto por Hesíodo na sua obra Teogonia, monumento de literatura do séc. VII a.C., é o mais antigo hino da coleção de outros 32 a 34 de gênero épico que constituem os poemas homéricos, transmitidos pelos aedos, cantados ou por narrativa oral acompanhada de música.

Os aedos clamavam pela presença ou inspiração das musas e sob efeito do entusiasmo (theos = deus, entusiasmo = com deus dentro), como em delírio, passavam a transmitir o que consideravam ser, mensagens divinas.

Essas composições fantasiosas de relatos lendários, que descrevem sentimentos e paixões exacerbadas de deuses, para tentar explicar a criação do mundo, os fenômenos da natureza e tudo que moveu e motivou feitos e conquistas dos heróis e suas façanhas. Independentemente da polêmica sobre a existência histórica de Homero, Richard Tarnas, atesta que ele foi a mais extraordinária personificação de toda a memória grega antiga.

Em Elevsis, colonizada desde 1580-1500 a.C. pelos micênicos (primeira civilização da Grécia continental, com palácios, estrutura urbana e sistema de escrita) teria sido construído o primeiro santuário a que se refere o próprio relato do hino de Homero a Deméter. E o culto, teria tido certa influência creto minoica, com alguma inspiração egípcia.
Elevsis ficava em local estratégico, perto do mar com porto bem protegido em uma baia, na intersecção de três estradas que se encontravam, a Peloponeso, Corinto e Megarain, ao sudoeste, a da Beócia e Tebas, ao norte e a de Atenas, a leste, de onde estava apenas a 22 km.

Mapa das regiões da Grécia Antiga


Igreja pós bizantina, Hagios Zaharias em Elevsis, construída sobre ruínas de Basílica cristã do século V e materiais do santuário de Deméter, incorporados às suas paredes.

A Helenização do Cristianismo

Alexandre, nasceu em Pela (356a.C.) maior cidade do antigo reino grego da Macedônia. Instruído por Aristóteles em medicina, filosofia, moral, religião, lógica, dele recebeu cópia da Iliada e Odisseia, obra que levava em suas campanhas militares, sem precedentes, após suceder o pai Felipe II, assassinado em 336aC, de quem herdou e assumiu o Generalato da Grécia (liga de Corinto) e se inspirou no que ele desejava: difundiu a Cultura Helênica a povos conquistados, da Grécia ao Egito e até o noroeste da Índia.


Mapa da região da Grécia que abrangia a liga de Corinto


Expansão Macedônica

Até morrer em 323 a.C., invicto em suas batalhas havia criado o seu Império, reavivando antigos assentamentos e colônias gregas e fundando cidades como Alexandria e Antioquia que por esse extraordinário influxo cultural em todos os campos, subsistiram e floresceram e se tornaram decisivas depois também para a afirmação e propagação do Cristianismo.

“Faros era uma pequena ilha localizada na margem ocidental do Delta do Nilo.

Alexandre fundou a cidade de Alexandria (Em 332 a.C.) em um istmo oposto a “Faros” pequena ilha localizada na margem ocidental do Delta do Nilo.
“O mundo mediterrâneo daquela época era famoso pela navegação marítima e Alexandria era o maior porto do globo.” Carl Sagan

“Alexandria era uma cidade cosmopolita, cheia de sábios, e com a maior biblioteca do mundo antigo. Um de seus diretores foi o astrônomo, historiador, geógrafo, filósofo, poeta, crítico teatral e matemático, Eratóstenes, o primeiro a medir a circunferência da Terra em 40 mil kms.
proposta com uma margem de erro de apenas uns poucos por cento, realização notável para a época, 2.200 anos atrás porque foi em Alexandria que começaram a aventura intelectual que nos trouxe às margens do espaço.” Carl Sagan

Farol de Alexandria por Fischer von Erlach (1721)

“O Farol da Alexandria foi construído pelo Reino Ptolomaico entre 280 e 247 a.C. na cidade de Alexandria, pelo arquiteto grego Sóstrato de Cnido. Ele tinha entre 120 e 137 metros de altura e funcionava a base de fogo.” Carl Seagan

Em 1994 arqueólogos franceses descobriram parte dos restos do Farol no porto oriental de Alexandria.

Representação em 3D de como seria o Farol de Alexandria.


Mosaico do século XIII mostrando o Farol durante a chegada de São Marcos (de Cirene) em Alexandria


São Marcos pregando em Alexandria.
Por Gentile Bellini, atualmente na Pinacoteca de Brera, em Milão.

Tito Flávio ou Clemente da Alexandria, nascido em Atenas, 150 d.C, morreu na Palestina, em 215 d.C.

Distinguiu-se por ser tanto conhecedor do grego comum, ou koiné , no qual foram escritos os quatro evangelhos e os outros livros do Novo Testamento, quanto profundo conhecedor do grego clássico-em que foram escritas as obras de filosofia, teatro e história da Grécia Antiga, também conhecia vasta literatura judaica, lida à época, como a obra de Filon de Alexandria que articulou o pensamento de Platão com a mística judaica, isso lhe proporcionou poder e saber operar tais “ferramentas”, para realizar uma helenização do cristianismo, assentando a mensagem cristã, sobre bases de pensamento grego, como processo de compreensão lógica e de argumentação o que foi fundamental para ele considerado o mais erudito e para que os bispos chamados de “Pais da Igreja”, continuassem a exemplo dos doze apóstolos e de Paulo de Tarso, a conseguir levar a boa nova, a todos os povos.

Império Romano em 117 d.C.

Clemente de Alexandria, ensinou o Mistério da Encarnação e a Revelação da Verdade pelo discurso filosófico e fuga do discurso mitológico que segundo ele, tinha sido o prenúncio necessário da recepção da mensagem cristã no mundo. De retórica eloquente deixou caminho aberto, para quem, livremente, quisesse seguir a “vontade do Pai”.
[…] se tu queres, recebe, tu também, a iniciação
e tomarás parte no coro dos anjos em torno de Deus, enquanto o “Logos de Deus” se unirá a nossos hinos.
Este é o eterno Jesus, o único grande sacerdote do Deus, único que também é seu Pai; ele ora pelos homens e os exorta:escutai, tribos inumeráveis’, mais ainda aqueles dentre os homens racionais, bárbaros e gregos; eu chamo toda a raça humana, eu, que sou o criador pela vontade do Pai. (Exortação aos Gregos, XII 120 d.C.)


Império Romano em 393 d.C.

 

divisão do Império do Oriente e dos reinos bárbaros


divisão do Império Romano do Ocidente e o do Oriente


Veneza

– Marcos, filho de Maria de Jerusalém, batizado por Pedro, sobrinho de São Barnabé, (companheiro de Paulo em algumas viagens missionárias (Atos 12, 25).
-Não foi discípulo de Jesus, mas presenciou ainda muito jovem, momentos de sua vida, morte e Ressurreição.
-escreveu o primeiro Evangelho em 60 a.C.
-após as mortes de Pedro e Paulo, pregou o Evangelho na Ásia Menor, Egito, especialmente em Alexandria, onde fundou igrejas e foi martirizado
no dia da Páscoa, enquanto celebrava Missa
-Transportados de Alexandria em 829, seus restos mortais estão na Catedral dedicada a ele, Padroeiro de Veneza (cidade fundada em 421 e conquistada no século VI, por um general de Justiniano- Império Romano do Oriente .
-São Marcos é representado com um leão a seus pés, pois seu Evangelho, inicia com João Batista, como “uma voz que clama no deserto”, onde se ouvia rugidos de leões

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